domingo, 12 de outubro de 2008

Pedra da Marinha

Pureza nua,
pedra branca polos séculos do mar lavrada
a abalar a humildade dos seus veios.

Coio rombo de amável singeleza,
doce peso de seio polido,
cançom de seixo branco do Cantábrico.

Água levada de ningures,
estavas ali para a mao me encheres.

sábado, 11 de outubro de 2008

Pobre meu caderno...

Pobre meu caderno
por ter que cangar co peso
das frustraçons que eu extirpo,
por aturar-me, sós no quarto, ti e mais eu,
clorofila e cloratita,
ranhando em papel mesto o proído dum mosquito
nas tépedas noites da desorde
procurando algumha gándara distante,
atoutinhando a porta
dalgum inferno habitado
testa contra testa, se és meu leme
serei teu tripulante.

(Adicado à quietude dos encoros nas noites de inverno).




15 Agosto 2007

Céu de chumbo

Com quem partilhar este caderno?

Ecoam os sinos do igrejário
num dos derradeiros dias
de Branha Velha sem beirarruas

e levam-te à vidinha cativa
que veu da morte dos teus.

Cada erva do cemitério
coberta deste céu de chumbo,
cada verme que há levar a tona dos meus ossos.

Este é o vento que ispe as cousas
do seu cobertor de vida.

O home no caminho

Segunda-feira de chuvisca e céu brancujo,
os nenos vam na escola
e as chaminés fumegam.

Anda o home só polos caminhos
sabendo-se velhote de maos frias,
a enchoupar os sapatos nas pucharcas.

Abaneam os vímbios nas cortinhas
e o home no bandulho
sente o calor do vinho.

Iceberg

Reflectem sombras dos corvos na soidade do iceberg
pondo os dous pontos: preto sobre branco.

Tremelocem as placas em intres efémeros azul Neptuno
e nom dá morto este silêncio de ar furado.

Aboia este pequeno mundo de tempo varado
ao próprio tempo que o existir estantio exige um berro
e sem abrir a boca que nom tem pede a gritos ser acuitelado.

O morador único confunde-se co mundo,
saúda a nada; essa cegueira branca,
deriva equidistante dos quatro horizontes
sabendo-se atravessado
polo gume indoloro e fatal dos meridianos.

Arquipélago dos cumes

No quadro estantio
os cumes som ilhas num mar de vapor branco
ourelado de raios de bebop,
cantis de espinha dorsal
entre mato baixo e pedregulho.

Quero voar numha gamela,
deixar o meu ronsel na brétema
até chegar a umha alpina Micronésia,
exalar centos de ínfimas ras de cristal.

Descer pom-me vertigem,
é pesadelo, deixar este mundo
de teitos insulares.

Abaixo, além da névoa,
moram os homes e as mulheres.

A garrafa

A garrafa gostava da praia hipotética
porque ali talvez alguém leria a sua mensagem.

O sonho leva-o a estar só na noite
no cruzamento dos caminhos
se calhar ao pé do cruzeiro
numhas frias cinco da manhá estivais.

Pode ser que nom lembre o mar de erva
dos antergos e dos ralos,
que se perda entre a espessura
considerando a imagem.

Abaixo todo é mais doado
ninguém pensa, mas todo é mais doado
e embarga-o esse ar de fundo de oceano.

E sabe a garrafa
Que nunca há de chegar à praia.