quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Monicreques Lobotomizados TV


Compra, vota, hipoteca-te,
legitima esta barbárie,
fecha os olhos para nom veres
o genocídio, a fame negra,
doenças espalhadas à mantenta
e a sempre negada tortura
dos generais que inçam o mundo
de morte prematura.
Toma um quinto, vai à disco,
Estuda, choia e cumpre co fisco.
Rapaz: fai-te milico ou picoleto
para cobrares
e ter um carro guapo
que te eleve a macho dominante.
Rapariga: nom opines,
enfeita-te para seducires
o teu macho dominante.
Sê como elas, e nom penses,
que isso é de raras quatro-olhos.
Esforça-te, pisa, ascende e chega longe,
tés de ser melhor do que o vizinho
ao que saúdas com desleixo
-como para te fiares dos estranhos-
Ti és ti, nom creias no sujeito colectivo
"Os demais som os demais, melhor que morram
e fique eu só no mundo".
Que fermosos som os homes e as mulheres dos anúncios,
que mal soa o galego,
que pailám o que vive longe da cidade.
Rubide como hedras nos valados,
melhorade até chegar a funcionários,
que eu quando me canse marcho.


(De Cartafol de poesia 07; A Cançom do Sumidoiro)

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És umha inteira Geographia
de vale e verde veiga
e rio de força que verte em calma foz.
Mas és também assepsia e desserto,
lunares (e dunares) paisagens de Omega e Omicron.
Olho de serpe, guedelha ensarilhada
preto de aziveche,branco de nada.
Fazedora das noites
nai dos morcegos,
vímbio que fende em dous o ar.
Latejo, fluência dos folgos,
fonte das fontes todas;
cheiro de casa habitada noutrora.

(De Estadea)

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À beira da artéria
ficava o moinho.
No monte a moa latejante,
cadaquém a aguardar a sua quenda.
Pegadas de pés espertos,
pálpebras que som contras
de janelas cansas.
Ocas e murchas, sem compás nem leme
sonhando que sonham que morrem.
Efémeros socalcos na terra,
caminhos mergulhados no podre,
regos de águas esvaídas.
Passárom os anos, os regimes.
As hedras cobrírom os chanços
ninguém barbeou a silveira
da face dura de antano.

E eu só queria moer !


(De Estadea)

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Ficou só
a olhar-se de um astro longínquo
engurrado e pequerrecho;
um grao de bico,
umha bincha de coiro reseso.
Do mesmo cerne
medido por compás
até a derradeira culherada de choiva.
Enxergou um ouveio
ao longo da pele de um pé;
um tremor cósmico,
talvez o pálpito do signo.
E ela
ao mesmo tempo no centroe no gravanço
(unidos ambos por um eixo imaginário)
transcreveu mensagens
que circulavam polas lombas
sem se misturarem.
Alviscou Barents e mais Bering,
baixou a um mar
-nom sei se Mármara ou Aral-
e decatou-se.
Existe
um corpúsculo ambulante
aceso. Nalgures,
com essa incandescência,
a transitar o vieiro que vertebra a Serra.
Só ele é que nos amosa
o mar de nuvens
e a neve nas umbrias dos cumes
quando é de noite
e ninguém a vê.

(De Estadea)

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Leva-me da mao
àquele Bertamiráns dos últimos oitenta,
àquele lameiro.
Nom me traias a esta Máfia queima-tudo;
aos pára-quedas de fósforo branco
a se projectarem, macabros,sobre a floresta que hoje é preta,
que nom é.
Charamuscas:
minúsculos soldados do oligarca,
fascismo aceso,
partículas do massacre.
Nom podemos mais que
gomitar o nosso amor por estes montes;
pola delicadeza das hedras a rubir
polo carvalho que agroma do penedo
da lontra, da píntega do demo,
da estadea, da morte e do ar bieito
que projectam sobre nós estes loureiros.

(de Estadea)

Cidade de Borralha

A cidade
é como um mercante varado
coberto de ferruge
enxergando as Américas com alma de patufo.
Umha imensa nao sem litoral, cinzenta,
betom, cimento, brétema;
é um beco na Terra,
umha protuberáncia artificiosa.
Por ela transitam
gentes que nem de si se lembram
e pensam que os grandes sonhos
se escrevem todos em inglês.
Nom conhecem o prazer de quando escampa e ficou todo chovido;
ignoram o asturianu, o córnico, o galó,
veneram esta plataforma inerme
e aforram para cadaleitos.
A noite é um ermo,
a Estadea sabe que a noite é um ermo.
Semelha Utah;
mesmo a poalha a cair nas barracas do porto.
Aqui mesmo é deserto
a dança entre os peiraos
da baldada maré podre.

(De Estadea)

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Que fam os cavalos de noite
na Curota e mais no Iroite?

No Rubial de Bastavales, capital da Boreália
eu bebo, como a nai noutrora, as badaladas
separado dela polo lume do babeco,
soberbo babilónio,
que prendeu nas estivadas do Barbança;
devastaçom descente
do pranto da bóveda celeste.
Jaz hoje em anacos Ushuaia.
A Amaía é a matriarca
que, anterga, nos amosa o curso das Fisterras
e o leito do aldrajado rio
que flue resignado até o horizonte.
Quando morra, se depois vem algo,
de Framil ao Falcoeiro sulcarei as noites.

Que sonham eles de noite
na Curota e mais no Iroite?